
Fátima cruza a linha: invasão, fraude e um plano cruel
O capítulo levou a vilania de Maria de Fátima (Bella Campos) a outro patamar em Vale Tudo. Movida por ciúme e medo de perder Afonso (Humberto Carrão), ela invadiu o apartamento de Solange (Alice Wegmann) para adulterar medicamentos e provocar a perda dos gêmeos que a rival espera. A sequência foi construída como thriller: silêncio, luz baixa, frascos trocados e a sensação de que tudo poderia dar errado a qualquer segundo.
O estopim veio quando Fátima subornou um funcionário de laboratório e descobriu que o exame de esterilidade de Afonso — aquele que Celina (Malu Galli) exibiu como prova de que o marido não poderia ter filhos — era falso. A informação virou a chave da personagem: se o teste foi manipulado, Afonso pode ser o pai. E a gravidez gemelar de Solange encaixa na história familiar dele: o empresário teve irmãos gêmeos, o que alimentou a obsessão de Fátima.
Para executar o plano, a personagem não agiu sozinha. Ela combinou com César (Cauã Reymond) uma distração na Tomorrow, empresa onde Solange e Sardinha (Lucas Leto) trabalham. Enquanto os dois eram mantidos ocupados numa reunião que não precisava acontecer, Fátima usava a ausência da rival para entrar no apartamento e mexer nos remédios prescritos à diretora de criação. Tudo pensado para parecer acidente, tudo calculado para doer onde mais atingiria Afonso.
Os roteiristas amarraram o arco com peças que vinham sendo plantadas. Celina, que circula com naturalidade entre Fátima e Afonso, levou a nora a confiar numa versão confortável da realidade — o casamento seguro, sem herdeiros fora de tempo. Quando a farsa do exame caiu, Fátima ligou os pontos, e o que poderia ser conversa franca virou crime premeditado.
A cena da invasão teve escolhas de direção que reforçaram a escalada da personagem: close nas mãos trêmulas, a chave girando na fechadura, a prateleira de remédios enquadrada como um cofre. Bella Campos sustentou a ambiguidade entre pânico e frieza; não havia impulso, havia método. É a travessia da anti-heroína para o campo do irremediável.
César, por sua vez, aparece como cúmplice útil e calculista. Ele não compartilha dos dramas amorosos de Fátima, mas enxerga na confusão uma chance de ganhar terreno dentro da Tomorrow. Segurar Sardinha e Solange no escritório não foi favor; foi investimento. A novela deixa no ar que ele sabe muito mais do que aparenta — e que pode cobrar a conta depois.
Solange segue como o contraponto. A gravidez chegou no meio de uma disputa profissional, e a personagem tenta manter a rotina sem transformar a gestação em escudo. A maldade de Fátima a mira em duas frentes: a pessoal, pela relação com Afonso, e a corporativa, pela força que Solange ganhou na agência. A arma não é só ciúme; é poder.

O que vem pela frente e as rachaduras que já começaram
Afonso, por enquanto, ignora o que a esposa fez. A novela, porém, já plantou o fio que vai puxar o novelo: Sardinha reunirá provas das manipulações de Fátima e entregará ao patrão. O roteiro indica fotos, mensagens e relatos que ligam a distração na Tomorrow à invasão do apartamento. Quando tudo vier à tona, a ruptura conjugal deixa de ser hipótese: Fátima será expulsa de casa.
As consequências não param no casamento. A atitude de Fátima atravessa linhas legais. Advogados consultados por produções do gênero costumam apontar crimes como invasão de domicílio, falsidade ideológica em contexto de fraude de exame e tentativa de provocar aborto. O folhetim não detalha o processo, mas deixa claro: não se trata de um tropeço, e sim de um conjunto de delitos que cobram preço alto.
Para Solange, o arco tende a se concentrar no acolhimento e na proteção. A equipe na Tomorrow, que sempre oscilou entre disputa e parceria, deve se fechar em torno dela. Afonso, abalado, vai ter de separar culpa e responsabilidade: cuidar da gestante e dos bebês, se confirmada a paternidade, enquanto encara o rastro de destruição que Fátima deixou.
Nas redes, a reação foi imediata. Comentários pediram punição exemplar para a vilã e elogiaram a condução tensa do capítulo. O desempenho de Bella Campos foi apontado como o grande motor da noite, enquanto Alice Wegmann sustentou a vulnerabilidade de Solange sem apelar ao melodrama. Humberto Carrão apareceu como o homem que está atrasado para a própria história — e isso prepara o terreno para uma explosão dramática quando ele souber de tudo.
O eixo temático segue claro: ambição sem freio, controle do corpo alheio, violência psicológica e o mito da família perfeita. Quando Fátima aposta em manipular medicamentos, ela empurra a narrativa para um debate que a novela já vinha rondando: até onde alguém vai para proteger um status adquirido? E o que resta quando o plano dá errado e a máscara cai?
Também chama atenção como a trama corporativa conversa com o íntimo. A Tomorrow virou palco de manobras de poder, e cada vitória profissional reverbera no tabuleiro afetivo. César joga por si. Sardinha, sempre visto como coadjuvante espirituoso, ganha espessura ao virar peça-chave do desmascaramento. Ele não é só o assistente esperto; é o cara que guarda memória dos corredores, o que viu e entendeu o bastante para juntar as provas.
Do ponto de vista de produção, a sequência da invasão foi pensada para segurar o fôlego: trilha econômica, cortes secos e um uso de cenário que transforma o apartamento de Solange em labirinto. Não há violência gráfica; há tensão. O perigo está mais no gesto de torcer um rótulo do que numa perseguição convencional — e isso dá realismo à ameaça.
O público deve ficar de olho em três movimentos: o retorno de Solange ao apartamento e a descoberta de que algo foi mexido; a cadeia de mensagens e deslocamentos que ligam César à distração; e o momento em que Afonso, munido das provas de Sardinha, confronta Fátima. A partir daí, a novela tem material para reconfigurar alianças e jogar novos pesos na disputa dentro da Tomorrow.
- Fios soltos que voltam: o exame falsificado abre caminho para investigar quem e por quê.
- Risco jurídico: a soma de invasão, fraude e tentativa de dano à gestação pode virar processo.
- Rearranjo afetivo: Afonso passa do papel de enganado ao de protetor de Solange e dos bebês.
- Jogo de poder: César e Celina ficam na mira como cúmplices ou beneficiários indiretos.
Se a pergunta era até onde Fátima iria, a resposta veio sem meias palavras. O capítulo não só avançou a história, como colocou a protagonista num ponto de não retorno. A partir daqui, a trama deixa de ser sobre manter aparências e passa a ser sobre consequências. E, pela primeira vez, Fátima parece menor do que o estrago que causou.
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