Congresso Nacional da AASP destaca juristas negras e reforça luta por justiça antirracista

Juristas negras em destaque: protagonismo e debates sobre racismo estrutural

A sede da Associação dos Advogados de São Paulo (AASP) foi palco de um encontro histórico nos dias 24 e 25 de julho de 2025. O Congresso Nacional de Juristas Negras – Vozes de Julho: Tecendo a Justiça reuniu nomes importantes do direito brasileiro em um evento que colocou racialidade, justiça antirracista e igualdade em primeiro plano. Essa iniciativa, totalmente gratuita, contou com a parceria da Comissão de Igualdade Racial da OAB/SP, do IASP e do IBCCRIM, chamando a atenção para pautas que não costumam receber tanto espaço nos tradicionais eventos jurídicos.

O congresso foi muito além de discursos. Durante dois dias, advogadas, juízas, defensoras públicas e estudantes protagonizaram mesas-redondas e painéis temáticos. Os tópicos iam desde estratégias de litígio para combater casos de racismo, até o desafio de desconstruir notícias falsas e discursos de ódio. O espaço também se abriu para uma reflexão urgente sobre compliance e diversidade nas instituições, mostrando como a transparência e o respeito à diferença são essenciais no ambiente jurídico.

Um ponto que mexeu com o público foi o painel sobre saúde mental de profissionais negros. Os relatos mostraram como a pressão, o isolamento e o racismo impostos no dia a dia corroem não só carreiras, mas também a qualidade de vida de quem luta para ocupar espaços no direito. Debates sobre a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) e os impactos para comunidades negras também entraram no radar, trazendo questões tecnológicas para a pauta da inclusão.

Mentorias, prêmios e o impacto das vozes negras na justiça

Durante o evento, a presidente da AASP, Renata Castello Branco Mariz de Oliveira, ressaltou como a associação trabalha para dar protagonismo às profissionais negras e fomentar debates que transformem a prática do direito. Na mesma linha, Rosana Rufino, presidente da Comissão de Igualdade Racial da OAB/SP, mostrou como iniciativas como programas de mentoria e ambientes de formação podem ser decisivos para mudar a cara das instituições jurídicas.

Chamou atenção a entrega simbólica da Medalha Tereza de Benguela e Esperança Garcia. Esse prêmio reconhece mulheres negras que contribuíram de forma marcante para a justiça no país, promovendo visibilidade para trajetórias normalmente apagadas. O evento aconteceu durante o mês dedicado às Mulheres Negras Latino-Americanas e Caribenhas, o que tornou o clima de celebração e resistência ainda maior.

Outro ponto de destaque foram os diálogos sobre interseccionalidade. Não ficou apenas na temática racial: as discussões incluíram gênero, governança corporativa, acesso à saúde e caminhos para garantir mais representatividade nos espaços de decisão. Participantes lembraram que faltar políticas inclusivas e reconhecer o valor das advogadas negras é reforçar um ciclo de desigualdade que atinge toda a sociedade.

A AASP, que já conta com 75 mil associados pelo país, aproveitou para apresentar ferramentas inovadoras de apoio à advocacia, como notificações automáticas baseadas em inteligência artificial e plataformas digitais certificadas. A mensagem final que ficou no ar foi: só há justiça quando há igualdade racial e oportunidades concretas para quem esteve à margem até agora. O congresso, marcado pelo clima de troca e acolhimento, provou que vozes negras têm muito a dizer sobre o futuro do direito no Brasil.

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