O Criciúma Esporte Clube viu o sonho de retornar à elite do futebol brasileiro se desfazer na tarde de domingo, 23 de novembro de 2025, na Arena Pantanal. Derrotado por 1 a 0 pelo Cuiabá Esporte Clube, o Tigre — que precisava apenas de uma vitória para garantir acesso direto à Série A do Campeonato Brasileiro 2025 — viu suas chances se reduzirem a um cenário de espera, dependendo de resultados alheios. A derrota, inesperada para muitos, não foi apenas um tropeço esportivo: foi um golpe financeiro e emocional em um clube que há décadas sonha com o retorno à elite.
Um jogo que não podia perder
Com 61 pontos na terceira colocação da Série B, o Criciúma entrava em campo com a missão mais clara possível: vencer. O técnico Eduardo Baptista mantinha a mesma formação da rodada anterior, com uma exceção: a confirmação do lateral-esquerdo Felipinho (Felipe Augusto de Oliveira), que havia enfrentado o luto pela perda do irmão na terça-feira anterior. Sua presença no gramado foi um símbolo de coragem — e, para muitos torcedores, um toque de sorte. Mas o futebol, às vezes, não reconhece sacrifícios. O Cuiabá, por outro lado, já sem ambições, escalou jogadores de reserva, quase como um treino em jogo. Nino Paraíba, Nathan Silva, Calebe Ferreira e Sander Lima formavam a defesa; no meio, David Miguel, Denilson Jeferson e De Lucca; e no ataque, Carlos Alberto, Max William e Victor Barbara. Nada de grandes estrelas. Nada de pressão. Só futebol de quem já tinha cumprido sua missão.A única conquista do Cuiabá: o peso da surpresa
O gol da vitória veio aos 37 minutos do segundo tempo, de cabeça, após um cruzamento rasteiro da direita. O autor? Victor Barbara, jogador que havia atuado apenas 12 minutos na Série B na temporada inteira. A emoção foi mínima no lado do Cuiabá — quase um alívio. Mas no outro lado, o silêncio foi ensurdecedor. Torcedores do Criciúma, que haviam viajado em grandes números até Cuiabá, ficaram imóveis. Alguns choraram. Outros apenas encararam o gramado, como se esperassem que o tempo voltasse. O placar de 1 a 0 não parecia real. Não para um time que havia vencido o Corinthians fora de casa na rodada anterior, que havia sido o mais consistente nos últimos dez jogos, que havia sido o único clube da Série B a vencer todos os seus jogos em casa na segunda metade da competição.Transmissões paralelas e comentários que viraram meme
Enquanto a transmissão oficial era conduzida pelo Disney+ com a cobertura da ESPN, canais independentes como a TV Tigre, Tabelando EC e Na Rede Oficial transmitiam com câmeras amadoras e comentaristas apaixonados. Foi ali que dois nomes se tornaram parte da história: Rodrigo e Renato Semenate. Por volta dos 8 minutos, Rodrigo disse: "O Rodrigo é um jogador que sinceramente eu não tenho nenhum outro zagueiro que tenha passado no Criciúma, nenhum, né? Isso é minha opinião, né? Que tenha sido melhor do que o Rodrigo." E, aos 23 minutos, Renato completou: "Mesma linha, Renato Semenate. Olha, rapaz, teria que fazer um estudo aí, mas a princípio de que eu tô aqui, eu não tenho dúvida nenhuma." As frases, ditas com entusiasmo, viraram memes. Mas por trás delas havia algo mais: a dor de quem ama e não entende. Quem quer acreditar, mesmo quando a realidade bate à porta.O custo de um erro
O acesso à Série A não é só glória. É dinheiro. É R$ 80 milhões por temporada em direitos de transmissão, patrocínios, bilheteria e repasses da CBF. O Criciúma, que já enfrenta dificuldades financeiras desde a última década, perdeu o que poderia ser um salto estrutural. A torcida, estimada em mais de 300 mil pessoas, não apenas perdeu um jogo — perdeu um futuro. O clube, fundado em 13 de maio de 1947, já foi campeão catarinense 13 vezes e chegou a disputar a Copa Libertadores em 1991. Mas nos últimos 20 anos, viveu entre a Série B e a Série C. Este era o momento de mudar o ciclo.Resta a esperança — e a espera
Ainda há chance. Se o Chapecoense empatar ou perder para o Atlético-GO na rodada seguinte, o Criciúma poderá garantir o acesso por meio do quarto lugar. Mas o caminho é mais estreito. E mais doloroso. O time terá que vencer o seu próximo jogo — contra o Vila Nova — e torcer. Não há mais controle. A pressão agora é de quem não pode mais errar. O técnico Eduardo Baptista, em entrevista pós-jogo, apenas disse: "Fizemos o possível. O futebol, às vezes, não recompensa o merecimento. Mas não vamos desistir."Um clube que não desiste
O Criciúma não é um clube de grandes orçamentos. Não tem estádio moderno. Não tem patrocinadores globais. Mas tem tradição. Tem raiz. Tem torcedores que vão ao estádio mesmo quando o time está na Série C. E isso, talvez, seja o que mais importa. O acesso à Série A é um sonho. Mas a identidade do clube não morre com uma derrota. O Tigre ainda tem um futuro — só que agora, ele precisa ser construído com mais paciência, mais força e mais fé.Frequently Asked Questions
Por que o Criciúma precisava vencer para garantir acesso direto?
O Criciúma estava em terceiro lugar com 61 pontos, e apenas os quatro primeiros da Série B acessam à Série A. O primeiro e o segundo garantem acesso direto. O terceiro e o quarto precisam de um empate ou vitória para se manterem entre os quatro. Como o Criciúma tinha apenas um ponto de vantagem sobre o quarto colocado, qualquer derrota o colocava em risco imediato de perder a posição, dependendo dos resultados dos rivais.
Quem marcou o gol do Cuiabá e por que foi tão surpreendente?
O gol foi marcado por Victor Barbara, atacante que havia atuado apenas 12 minutos na Série B em toda a temporada. Ele era reserva e só entrou no segundo tempo. O Cuiabá já estava sem ambições, e sua escalação era composta majoritariamente por jogadores que não tinham espaço no ano. O fato de um jogador quase anônimo decidir um jogo tão importante foi um choque para o futebol brasileiro, mostrando o quão imprevisível pode ser a Série B.
Qual foi o impacto financeiro da derrota para o Criciúma?
O acesso à Série A garante aos clubes cerca de R$ 80 milhões por temporada em direitos de transmissão, repasses da CBF e aumento de patrocínios. Para o Criciúma, que já enfrenta dificuldades orçamentárias, essa perda representa um retrocesso de pelo menos dois anos de investimento em infraestrutura e contratações. O clube pode até voltar em 2026, mas o custo de manter a equipe na Série B será muito maior sem o fôlego financeiro da elite.
O que acontece se o Criciúma não subir em 2025?
Se o Criciúma não conquistar uma das quatro vagas, permanecerá na Série B em 2026, o que pode levar à perda de jogadores-chave por falta de recursos. A torcida pode diminuir, patrocinadores podem se afastar, e o clube corre o risco de entrar em um ciclo de rebaixamento. A diretoria já sinalizou que, em caso de fracasso, haverá uma reestruturação completa da equipe técnica e do elenco.
Por que a transmissão pela TV Tigre foi tão importante?
A TV Tigre, canal oficial do Criciúma com apoio da EstrelaBet, transmitiu o jogo com comentários amadores, mas cheios de emoção. Para os torcedores que não tinham acesso ao Disney+, foi a única forma de acompanhar o jogo ao vivo. Os comentários de Rodrigo e Renato Semenate, embora mal formulados, representaram a voz da torcida — pura, sem filtros, cheia de esperança. E isso, para muitos, foi mais valioso que a transmissão oficial.
Qual é o próximo passo do Criciúma após a derrota?
O próximo jogo é contra o Vila Nova, na próxima quarta-feira, em Criciúma. O time precisa vencer e torcer por um resultado desfavorável entre Chapecoense e Atlético-GO. A diretoria já anunciou que todos os jogadores estarão à disposição, e o estádio Heriberto Hülse será lotado. A torcida está mobilizada — não apenas para apoiar, mas para cobrar. A pressão agora é enorme, mas o espírito do Carvoeiro ainda está vivo.